sábado, 26 de dezembro de 2009


Universidade Federal do Espírito Santo
Centro de Educação
Departamento de Educação, Política e Sociedade
Curso de Pedagogia


Juliana Casotto Pirchiner
Patrícia Bertolo Chagas
Viviane Matias
Edivania de Souza
Resenha do Artigo sobre Educação Nutricional publicado no site dos luteranos
Educação Nutricional: por que e para quê?
por Maria Cristina Faber Boog


O artigo resenhado foi escrito por Maria Cristina Faber, nutricionista e professora de ciências Médicas da Unicamp, e foi publicado no site dos luteranos, sendo estes conhecidos por se preocuparem com o bem estar do corpo e a saúde em si. No seu artigo, ela percorre a história da educação nutricional, apresenta os benefícios de uma boa alimentação, as doenças diretamente ligadas à alimentação, as mudanças ocorridas na alimentação do homem moderno, as ligações da alimentação com a cultura social e levanta a questão das implicações em educar neste campo.
Ela começa seu artigo nos esclarecendo o que é a educação nutricional, e devemos concordar com sua explicação, pois quando esta nos pergunta:
O que é educação nutricional?
Nós entendemos e concordamos com a autora que é a forma de conscientizar a população em relação aos seus hábitos alimentares e a forma que devem praticá-la. Pois assim como nos relata a autora, a forma que nos alimentamos e a composição de nosso cardápio diário é uma questão social, cultural, afetiva e educacional conforme a inserção do individuo em determinada sociedade. Aprendemos a nos alimentar, ter uma educação nutricional primeiramente em casa e posteriormente nas relações de amizades, na sociedade e na escola.
Ela cita os Estados Unidos, sendo importante lembrar que, é um país que lidera mundialmente casos de obesidade, a população em geral, possui maus hábitos alimentares, as refeições geralmente são realizadas em fast foods contendo alimentos gordurosos e ricos em açúcar. Este modelo de alimentação é decorrente da correria do dia-a-dia do ser humano moderno, que os levam a consumirem alimentos mais práticos e rápidos, como os enlatados. Ao contrário, na Itália a maioria da população celebra o almoço sentado à mesa com a família, saboreando uma tradicional massa. Concordamos que ao longo dos anos a cultura alimentar no Brasil vem mudando, cada vez mais. O brasileiro têm trocado o tradicional prato de arroz com feijão pelos lanches rápidos, herança da cultura norte americana.
Nos últimos anos crescem o interesse das autoridades governamentais, das instituições e da população em geral em relação à alimentação saudável. Governos de vários países têm tomado providências em relação à conscientização e a prática da educação nutricional, pois o número de doenças decorrentes de maus hábitos alimentares acompanhadas do fumo e do sedentarismo, e o crescimento de uma população obesa acarretam altos custos aos cofres públicos. Pois é através também deste mecanismo, a alimentação, que se alcança a qualidade de vida. Os benefícios que esta traz são inúmeros, principalmente quando se diz respeito à prevenção e tratamento de doenças.
A base da qualidade de vida é a própria conscientização dos benefícios resultantes da boa alimentação, e o número de adeptos tem crescido, porém apenas se conscientizar não basta, esta deve vir acompanhada da prática, contudo todas as nossas conquistas de vida dependem necessariamente da nossa saúde.
A autora não relatou, mas é válido lembrar que com o avanço tecnológico, a alimentação natural e os tratamentos caseiros à base de ervas e raízes foram deixados de lado, sendo substituídos por alimentos e remédios industrializados. Os meios de comunicação têm colaborado para a criação de uma nova cultura alimentar degradante à saúde da população, inculcando na população ideologias capitalistas, voltadas apenas para interesses econômicos.
“A publicidade é hoje a Escola de Nutrição das ‘Massas’. As pessoas, não raro, compram influenciadas pelos estímulos publicitários.” (Boarim, Daniel de Sá Freire, 1988, p.64).
A alimentação moderna está sobrecarregada de erros, que representam injurias a nutrição e a saúde, é indispensável evitar certos alimentos e hábitos nocivos, e substituí-los adequadamente. Ela nos lembra também que o excesso de determinados nutrientes, bem como a carência destes, pode acarretar sérios prejuízos à saúde. A questão econômica atinge diretamente a forma de se alimentar. A desnutrição, decorrente da divisão de classes, da pobreza e da fome também é uma preocupação em geral, pois a fome tem dizimado um grande número de pessoas no mundo. A autora nos demonstra que a solução deste problema está ligada à tomada de consciência para a solidariedade por parte daqueles que tem poder aquisitivo.
Relata-nos que a visão em relação à educação nutricional mudou assim como a alimentação nos últimos anos, enquanto há algumas décadas passadas, poucos se preocupavam com a questão alimentar a maioria não aceitavam o que era proposto. Na pós-guerra, na década de 40, foi um período marcante para esta questão. Foram feitos grandes esforços por parte dos profissionais ligados a área, para promover qualidade na alimentação das populações pobres, com poucos recursos, propondo assim uma harmonia entre custo/benefício.
A colocação acadêmica da educação nutricional também sofreu algumas modificações, tomou-se ciência de que esta educação não se aprende de um dia para o outro, é necessário se reeducar gradativamente, através de pessoas capacitadas. O ressurgimento do interesse pela alimentação é devido a relação entre a má alimentação com as doenças. O que vemos hoje é a necessidade da implantação de uma disciplina voltada desde a infância, e que aborde este tema, pois vemos nossas crianças desenvolvendo doenças cada vez mais cedo, sendo estas relacionadas à alimentação como a desnutrição, obesidade, colesterol alto, diabetes, etc. Porém há implicações em educar na alimentação, pois se alimentar não é apenas um fenômeno biológico, mas também esta ligada as questões psicológicas e relações sociais.
Os profissionais desta área buscam estratégias eficazes para melhorar a alimentação da população, independente da faixa etária.
Na década de 40, ocorreram no Brasil iniciativas criticadas pela população. A função de visitadora de alimentação que percorria as cozinhas dos lares brasileiros, promovendo a educação alimentar no momento de seu preparo, não foi bem aceita, considerada pela população uma medida invasiva, imposta e não conscientizada.
A autora também nos fala das iniciativas antiéticas do governo dos EUA, que nas décadas de 50 e 60, realizavam grandes doações de seus excedentes agrícolas a países pobres com intuito de que as populações se habituassem aos alimentos doados e passassem a ser futuros compradores, está iniciativa foi criticada e descredenciou a educação nutricional. Foi neste período que se tentou implantar a soja, como alimento substituto pelo feijão, porém este produto economicamente se tornou inviável por ser de exportação, portanto um produto caro, sendo também que existe uma preferência nacional e cultural pelo feijão.
Nas décadas de 60 e 70 as iniciativas da educação nutricional se distância da sociologia e cede espaço a medicina. Entre as décadas de 70 e 80 as iniciativas são vistas como formas de repressão, tomaram-se como forma de liberdade de expressão se alimentar a hora e da forma que quisesse. Percebemos então que herdamos deste período os hábitos alimentares atuais, “beliscando” guloseimas a hora que desejassem e não seguindo, um horário adequado. Entrando assim na década de 90 com um decréscimo de consumo de alimentos saudáveis, e um aumento de consumo de alimentos industrializados, em especial os mais calóricos. Resultou-se assim um aumento significativo das doenças relacionadas à obesidade, comprovadas por pesquisas realizadas pelo Ministério da Saúde. Aonde esta mostra que as principais pessoas atingidas são mulheres de baixa renda.
Lembramos que a obesidade não só pode acarretar em doenças biológicas, mas também em problemas psicológicos, pois esta expõe o ser humano ao preconceito, a exclusão e em muitos casos a depressão.
No mundo atual onde existe a corpolatria, onde se cultua o corpo, a perfeição e as cirurgias plásticas são comum ao nosso cotidiano, os gordinhos são vistos como preguiçosos e desleixados com o próprio corpo e saúde.
Na revista Veja do mês de Novembro, é abordado este assunto. Uma jovem expôs sua estória nas páginas da revista; esta jovem praticava balé desde sua infância, se dedicou durante anos, mas no momento do seu teste final foi reprovada sem ser dado a esta nenhum argumento sobre falhas técnicas. Simplesmente foi dito mais tarde que a saliência de seu abdômen atrapalhou o momento do execução da barra. Após isto, se evadiu do balé, retornando recentemente, e recebendo orientações de sua professora para que emagrecesse, pois assim conseguiria passar no teste final, mas que mesmo assim não alcançaria jamais o corpo exigido de uma bailarina. Há também relatos de mulheres obesas agredidas fisicamente e moralmente, como o caso de uma senhora que foi agredida fisicamente, sendo chamada pela agressora de “vaca gorda”, além de ouvir que ela tinha que morrer, ninguém reagiu a seu favor. Existe uma grande intolerância por parte das pessoas em relação aos obesos, que passam a ter prejuízos psicológicos. Outro caso que nos chama a atenção, é de um casal escocês que perderam a guarda dos setes filhos, devido a condição obesa que se encontrava os pais e os filhos. O serviço social vinha acompanhando esta família, orientando para que mudassem, depois várias tentativas, o governo entendeu como negligência dos pais a situação, tomando a guarda dos seus filhos.
Na década atual, a educação nutricional, deixa de ser vista como imposição, mas sim como uma nova chance de se ganhar qualidade de vida, percebendo a importância de se ter um profissional de nutrição nas escolas e empresas. Em muitas instituições de ensinos da rede pública e particular, as cantinas estão substituindo gradativamente os salgados e refrigerantes pelos alimentos naturais, como, frutas, sucos, etc.
Criaram-se assim novos sentidos para uma alimentação adequada, deixou de ser simplesmente receitas que se proibiam de comer e passou a ser formas de conscientização de conhecer o valor dos nutrientes de cada alimento.
O principal desafio atual que a autora nos coloca é a realização dos múltiplos componentes da educação nutricional na prática.
O artigo aborda quase todos os pontos importantes da alimentação, porém não abrange por completo as questões das doenças psicológicas, como os transtornos alimentares; a bulimia, anorexia e a compulsão por alimentos.
A Bulimia é uma doença muito séria, onde a pessoa após se alimentar provoca o vômito para se livrar do alimento como forma de emagrecer ou não engordar, pois leva em sua consciência a culpa de ter se alimentado. Existem hoje até redes de comunicação entre estes “adeptos”, que trocam informações bulêmicas entre si. É uma doença difícil de ser identificada, pois a pessoa esconde o “problema”, que é visto por ela como normal. em muitos casos estas pessoas, em geral mulheres não apresentam magreza excessiva.
Na anorexia, ocorre que o contrário, a pessoa deixa de se alimentar por ter uma distorção de imagem de si mesmo, ela se vê gorda, mesmo quando esta extremamente magra, desnutrida e com risco de morte. Este transtorno tem ocorrido cada vez mais cedo em meninas, que na tentativa de acompanhar o padrão de beleza imposto pela sociedade e apresentado nas revistas, por fotos de modelos magérrimas, colocam em risco a própria saúde para alcançar o corpo desejado. Este transtorno é mais fácil de ser identificado, pois as pessoas que a cercam, observam que ela parou de se alimentar, que emagrece muito rápido, fica agressiva e apresenta outros sintomas biológicos. Na maioria dos casos é necessário internação, para que não venha a óbito.
Na compulsão por alimento a pessoa costuma comer escondido, ingerindo rapidamente o alimento, pois esta também sente culpa, e se sente constrangida do que faz. Também possui o hábito de se alimentar diversas vezes e de forma exagerada, mesmo não sentindo fome, não consegue parar de comer, tem necessidade de “atacar a geladeira”. Após se alimentar o compulsivo por alimento, sente remorso, culpa vergonha, angústia e em geral tem crises depressivas. Todos os três tipos de transtornos têm ligação direta com o alimento, prejudicam em muito a saúde e se faz necessário tratamento médico e psicológico, acompanhado do apoio da família. Geralmente a pessoa não admite que esta doente, o que dificulta o tratamento e a recuperação. n
Neste âmbito vemos a necessidade e complexidade da educação nutricional, pois a uma relação psicológica e afetiva envolvendo a alimentação.
Outro tema importante que não foi abrangido foi à produção e o consumo de alimentos sem agrotóxico, os chamados alimentos orgânicos. Houve um aumento de investimentos na plantação e no consumo desses alimentos.
Porém, sabemos que o campo da educação nutricional é muito amplo e devemos destacar que a autora em seu artigo fez importantes menções para compreendermos o ressurgimento da preocupação em se alimentar.
O importante é que este nos faz refletir e ter consciência sobre a nossa condição humana a respeito da alimentação, que implica muito mais do que um simples ato de sobrevivência.